November 10, 2022

foto histórica*

 


foto histórica* 🌊
1971. tinha 6 anos. os pais ainda estavam casados. quando olho para eles não sei como um dia viveram juntos. eram tão diferentes. ainda são. completamente. mas têm os mesmos gostos. engraçado.
morava na henrique dumont esquina com a visconde de pirajá. lembro muito pouco de tudo. o ap. a vida com a mãe. o pai trabalhava. tinha meu quarto. da escola. lembro da copa de 70. dos papéis caindo dos prédios. têm uns flashes. não sei se são realmente minhas memórias ou o que me contaram e registrei. tinha boneca. vitrola. caneta colorida. chiclets de bolas coloridas grandonas. amiguinhas. e adorava comer arroz com ovo. teve meu niver que a mãe fez com bolo de baba de moça. e tinha a vista.
a vista. era um ap de fundos. havia uma casa que nao era vendida de jeito algum. diziam que estava em usufruto. foi assim que aprendi a palavra. e depois tinha o chiquíssimo country. só entrei lá uma ou duas vezes com a mãe pra ela votar. é um clube elitista. esnobe. pretenciosérrimo. mas ele é bonito. e por causa dele pude ver o mar muitos anos. depois a casa foi vendida. construíram um apart daqueles com mármore escuro e vidro fumê. impessoal.
depois da separação dos pais eu e a mãe fomos morar no prédio ao lado. pra minha surpresa tinha a mesma vista. era uma curtição!! no verão via a praia de longe me convidando pra largar tudo o que tinha pra fazer. às vezes largava. mãe deixava. tinha os dias fechados que eram lindos de outro jeito. ondas imensas. tem as ilhas. as cagarras. sonhava em chegar nelas. e tinha o cheirinho de maresia quando ela era forte e que nunca saiu da minha cabeça ou das narinas.
deixamos o ap. fomos morar na vinicius no ap do meu vô. quase viramos boêmias. era ao lado do garota de ipanema. tinha um movimento daqueles. lei do silêncio não vigorava.
depois de muito tempo reconstruímos nossas vidas. eu e mãe. em laranjeiras. passei 25 anos morando lá. quando entrei no apzinho vi o cristo do quarto. falei pra mãe que ele iria cuidar da gente. e está cuidando até hoje.
agora vivo no sul da frança. no seu interior. vejo o infinito. acho que deve ter sido uma peça do destino. troquei o mar pelo cristo e depois pelo infinito das montanhas. deve ter algum sentido nisso. estou tentando encontrar.
* repostada. postei em 2012. lá se vão 10 anos.

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